domingo, 20 de fevereiro de 2011

Assuntos amorosos...

Como pode você querer tanto uma pessoa a ponto de tentar mudar a si mesmo para fazer com que essa pessoa te ame do jeito que você é? A contradição é inevitável. Ter aquela pessoa que te ama incondicionalmente, mas com a condição de que você seja exatamente como ela idealizou nos sonhos mais insanos. E o pior de tudo é que você tenta, se esforça, move o mundo para poder se encaixar nesse perfil ideal, mas acontece que nunca se faz o bastante, porque não tem que ser assim. Precisa ser espontâneo, partir de você, sem nem sequer perceber a mudança ocorrendo, mas esperar isso é difícil, e não se tem garantias de que um dia isso vai acontecer, são só promessas, e as promessas tem o péssimo hábito de se deixarem cair em meio a turbulência da vida no abismo do esquecimento.
Não sei viver em paz, sem sentimentos e emoções fortes, daquelas que fazem a gente esquecer em que universo estamos e nos transportar para um lugar novo, mas comum. Mas, às vezes, se precisa de férias, precisa-se virar um monge, se mudar pro Tibet, e deixar de pensar, deixar de existir, esquecer os problemas e eles se esquecerem de mim, pra não precisar sentir sempre esse aperto no peito.
Mas infelizmente isso é impossível, então o que me resta a fazer é juntar as forças de um último e derradeiro suspiro e torcer para que ele se conserve e não acabe nunca, e assim enfrentar tudo de peito aberto, sabendo que vai doer muito, mas mesmo assim suportando, firme, ainda que se esteja caindo em pedaços por dentro.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Assim miava Zaratrusta

Zaratrusta. Esse foi o nome que me deram assim que cheguei na casa, ideia do Pai, sempre metido a filósofo, sem na verdade entender nada do que ele mesmo dizia, pelo menos era isso que a Mãe sempre falava. Mas era bom sujeito, me dava as melhores carnes e guloseimas, sempre tentando me agradar, esperando um olhar ou um miado de agradecimento, o que eu nunca dava, acho que ele deveria ter comprado um cão, mas não era isso que a pequena Michelle queria, ela quis a mim, e aqui estou.

Minha vida foi difícil no começo, sempre me esquivando dos braços e abraços que a Michelle insistia tanto em me dar a todo o momento, não a culpo, não querer tocar-me é quase impossível, com meus pêlos vistosos, e meu olhar meigo, tenho consciência disso e tiro proveito, quando quero deitar na poltrona do Pai, é só me espreguiçar de um jeito mais vagaroso que não há quem resista.

Sempre fui dado a uma imprudência, adoro desafios, só havia uma coisa que me incomodava, não sei explicar o porquê, mas eu nunca gostei de namorar fêmeas, até tentei durante um tempo, mas no fim não dava certo, sentia que faltava alguma coisa. Existia uma força que me impulsionava sempre a procurar outros machos, fiz um esforço colossal por muito tempo para evitar esses pensamentos, mas por fim eu cedi aos meus mais tortuosos desejos. Minha vida depois disso foi sempre incompleta, eu sou um gato que gosta de outros gatos, isso não pode ser normal. Apesar disso eu era feliz, sempre procurando coisas novas para me divertir, e sempre achando, isso era um problema às vezes.

Até que um dia eu comecei a sentir umas dores estranhas, pensei logo “vou parar de comer tanto doce, e comer mais aquela papa enlatada que a Mãe sempre tenta me dar.”, mas para o meu alivio a Michelle também percebeu meu incomodo e falou com o Pai que me levou a um lugar todo branco, com várias fotos de cachorros e gatos, me senti em casa lá, parecia um templo de devoção a mim. Um homem começou a me apalpar, eu até tava gostando, até ele falar as seguintes palavras “Tá prenha.”. Na hora fiquei gelado, gatos não ficam prenhas, só gatas! O que está acontecendo? Pude notar que o meu sentimento era compartilhado pela Michelle e pelo Pai, que rebateram ao homem insano que a pouco me apalpava, “Não é possível! Zaratrusta é macho!”. O homem insistiu e me revelou o que deveriam ter me dito a muito tempo, “Desculpa, mas o Zaratrusta é uma fêmea”. Pronto, meu mundo caiu e tudo passou a fazer sentido, todos aqueles sentimentos fizeram sentido, minha vida fez sentido.

Depois disso fui pra casa, mas tudo estava diferente. Até minhas atitudes com minha família humana mudaram, acho que não sabia lhe dar com minha condição errônea e acabava me afastando de quem me amava para esconder esse meu lado, mas agora, eles tão mais carinhosos comigo do que nunca, isso ainda me incomoda um pouco, mas pelo menos agora sou quem eu sempre quis ser.

domingo, 14 de novembro de 2010

Futilidades

É sempre tão fácil reconhecer nossos defeitos quando os enxergamos nos outros. Enquanto estamos agindo de uma forma ruim, ficamos tão absorvidos pela coisa que não percebemos o quanto aquilo pode ser mesquinho.
Estamos sempre buscando uma coisa que está aqui, dentro da gente, mas não alcançamos e por isso procuramos no mundo, e também não encontramos lá, pois estamos cegos com tudo o que ele oferece como substituto pra esse nirvana laborioso.
Ficamos presos a preconceitos estigmatizados no nosso pensamento, e reproduzimo-los como nossa própria verdade. A necessidade de estar sempre em um lugar ideal, onde você possa ver e ser visto, sempre no seu melhor ângulo, virou exatamente isso, uma necessidade. E o pior é que o não fazer isso afeta drasticamente a vida da pessoa que assim se comporta, como se fosse uma coisa vital, e não existisse outra maneira de ser feliz, ou mesmo de existir senão se comportando dessa maneira.
O que faz a vida ser completa? Cada um possui uma resposta diferente para essa pergunta, mas o que eu questiono é se as respostas dadas vêm do pensamento reflexivo de cada um ou se é um pensamento que paira sobre nossas cabeças, de outrem, que é reproduzido surdamente e acolhido de forma cordial e surda.
Parece que cada vez mais estamos perdendo a capacidade de raciocinar criticamente sobre a nossa vida e tudo que a governa. A escala evolutiva parou, e meu medo é de que as mentes atrofiem. Recebemos tanta informação a todo o tempo, e ficamos sedados por isso, assim, perdemos nossa capacidade de sentir as coisas, sem percebe- las como únicas, sem perceber cada momento como único.
Eu nem sei se algum dia foi assim, mas o que eu vejo hoje me dá uma saudade do que eu nunca tive, mas sempre quis. Uma vida mais simples, e no entanto, mais completa e feliz, sem precisar de tanto esforço.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Tropa de Elite

Meu Deus!! Era só isso que ecoava na minha cabeça depois de 53 min de documentário. Nunca gostei dos desse tipo, mas graças a minha querida professora de redação científica fui obrigada a assistir. Notícias de uma guerra particular. Esse é o título do meu tormento, é tudo tão real, as pessoas, os traficantes, os policiais, e todos parecem vítimas. A maldade deles transpira ignorancia, são maus por não conhecerem o bem. A visão é distocida, a realidade é vista por um prisma tão capitalista, onde o importante é o que você veste, com quem você anda, aonde você vai, não importando como se conseguir isso. A vida perdeu o valor. Matar, morrer, agora é cotidiano. Isso tá errado, o que tá acontecendo com o mundo? Isso não pode ser normal! As pessoas se esqueceram do por do sol? Acabaram as borboletas do planeta? Ninguém fica olhando pra noite a espera de um vaga-lume? Onde foram parar as coisas que realmente possuem valor?
Eu cansei, depois de ver tudo o que eu vi minha alma ficou pessada, brotaram lágrimas de tristeza, por todos aqueles que estão no mundo sem achar uma razão pra isso. E fico pensando, todo mundo está se mobilizando pra ir ver Tropa de Elite nos cinemas, filas e mais filas, mas alguém se importa com os seres humanos que ali estão sendo retratados? A tragédia de tantas pessoas que são vendidas em ingressos. Temos que reaprender a sermos Humanos.

sábado, 30 de outubro de 2010

Aprendendo a esperar

Às vezes me pego pensando em como vai ser daqui a um tempo, como eu vou ser, o que vai mudar, e o que nunca muda. Temos a mania de olhar para o futuro e imagina-lo com os olhos de agora, e nem tem como ser de outra forma, sempre achamos que somos os mesmos, mas a cada dia algo se transforma, isso me faz sentir falta de quem já fui, e odiar quem eu vou me tornar.
Parece que nunca se chega aonde se quer, sempre que penso que alcancei eu vejo que não, ainda falta algo. Mas que raio de algo é esse que eu nunca encontro?!.. o foco muda, eu sei o quanto Nitzcheano isso parece, força de potência, sempre querer mais.. okay, mas isso fica cansativo, onde fica meu porto, quando vou poder sentar, olhar ao meu redor e me sentir completa, satisfeita. Eu não sei.
Agora acho que esse questionamento perdeu o sentido, não tem como se descobrir. Com tudo isso só me resta esperar, porque não sei como, mas sempre parece que as respostas tão em algum lugar do futuro, nunca no presente, e quando esse dia chegar, nem sequer vamos nos dar conta, simplesmente acordamos um dia e descobrimos que entendemos o que antes não fazia sentido, assim, como mágica, O problema é quando esse dia não chega..

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Como escolher?

Ultimamente essa tem sido uma questão bastante presente, acho que em todo mundo. Minha teoria é de que hoje em dia você pode fazer qualquer coisa que você queira, mas não tem como fazer tudo, sem contradizer a si mesmo, e nessa dança toda, aonde fica nosso verdadeiro eu? Vivo me perdendo em mim tentando ser todos os eus que me habitam, e o deveria ser liberdade, vira uma libertinagem muito preciosa, da qual não se quer abrir mão. Mas depois do nirvana aparece o inferno, de não saber o que realmente se quer ser. E desse jeito a vida nos leva, às vezes como um sopro, às vezes como uma tempestade. As escolhas se dão por si só, talves por covadia de enfrentar um perigo pré determinado, ou por excesso de coragem, de nunca se preparar pro que vier a vir, e enfrentar de peito aberto. Não sei se é realmente necessario a mim esse dom de saber o que se quer. As decisões que tomamos, duram ao bel prazer do tempo, não cabe a nós arquitetar o futuro, fazer o que se quer a cada segundo me parece mais sólido do que fazer escolhas que influenciam coisas que estão fora do nosso alcance.